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Casas para reassentados para quando em Búzi?

Volvidos quatro anos após a passagem do ciclone Idai, algumas infra-estruturas, públicas e privadas, na vila de Búzi, exibem ainda rastros da destruição provocada por aquele desastre.

 

De acordo com o boletim do Observatório do Meio Rural (OMR), nos bairros de reassentamento localizados em Guara-Guara e nos bairros circunvizinhos, a população regozija-se com a construção e recente inauguração do hospital distrital de Búzi.

“No entanto, ressente-se do atraso dos projectos de construção de habitações para a população reassentada, e enfrenta um dilema paradigmático entre permanecer nos bairros de reassentamento e regressar às zonas consideradas de risco, contra o agrado do governo local e alguns organismos internacionais de ajuda”.

Em Búzi o processo de reconstrução pós-Idai é prolongado, entre outros, pela ocorrência cíclica de eventos extremos e pela fraca capacidade financeira e governativa das instituições do Estado local que, tal como a população, anseiam pelo início dos projectos de construção de moradias aguardados desde 2019.

 

Recomendações

 

Dentre várias observações o estudo observa que o processo de reconstrução pós-desastre é um exercício complexo (e longo) que exige uma abordagem holística na identificação das prioridades de intervenção.

“Os efeitos indirectos de um desastre e da reconstrução podem durar mais de 10 ou 20 anos. Isto parece-nos contrário à imagem romântica de uma reconstrução rápida e abrangente, pela qual se está a tentar embarcar em contextos pós-desastre, em Moçambique”. Considerando que os eventos extremos continuarão afectando o país nos próximos anos, tal como indicam as projecções (IPCC, 2022), e que novos reassentamentos populacionais serão (certamente) realizados, urge (re)pensar em soluções mais humanizadas, inclusivas, participativas e realistas, adequadas ao contexto social e cultural das populações afectadas.

Abordagens de reconstrução “românticas” podem resultar numa nova e conflituosa diferenciação social e minar os esforços para se alcançar a resiliência social e física que se pretende.

Nesta senda, recomenda-se que que haja uma maior coordenação interinstitucional no desenvolvimento de estratégias de adaptação adequadas aos contextos de intervenção.

O reassentamento de populações seja previamente planificado, o que implica, não só, a identificação dos locais para o mesmo, como também, consultas e comunicação junto das comunidades nos locais de acolhimento.

A construção de habitações para os reassentados não deveria impor modelos desajustados dos hábitos, cultura e valores antropológicos dos beneficiários.

Abordagens participativas e que considerem o conhecimento local devem ser privilegiadas no desenho dos modelos de casas para os beneficiários. Isto permitirá, não só, uma maior apropriação dos projectos, como ajudará a minimizar conflitos em fases posteriores.  É necessário que haja um maior envolvimento das autoridades locais na fiscalização dos projectos de construção implementados localmente. Não se trata, apenas, de construir e entregar (muitas) casas, como por vezes se refere; trata-se de construir bem e com padrões mínimos de segurança e resiliência. A ajuda não pode implicar desresponsabilização do Estado.

Incluir as mulheres na reconstrução pós-desastre, o que ajudará, como foi verificado noutros contextos, a fortalecer a sua resiliência e das suas famílias.

Promover campanhas de educação e debates sobre assuntos ligados às mudanças climáticas, para todas as idades (crianças, jovens, adultos) e com atenção para as necessidades dos grupos vulneráveis. (PpP/fonte:OMR)

 

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