Política

Uma farsa eleitoral em marcha

As falcatruas apimentadas pelo funcionamento problemático das máquinas de registo de eleitores que se registam no actual processo de recenseamento, ameaçam transformar as eleições moçambicanas numa autêntica farsa.

 

As principais falcatruas que graças ao advento das redes sociais têm vindo à tona todos os dias, consistem essencialmente em proceder ao registo de eleitores fora dos locais indicados e a calada da noite; guarda das máquinas de registo em casas particulares sem o conhecimento das entidades oficiais bem como a movimentação de eleitores de outras zonas para se recensearem no espaço autárquico.

 

Caso Mahoche

 

Esta terça-feira um grupo de mais de 50 pessoas, supostamente militantes ou simpatizantes do partido Frelimo foram neutralizadas na cidade da Matola, vindas de Mahoche, distrito da Moamba, para procederem ao registo naquele município, acto que os habilitaria a votarem, fraudulentamente, nas eleições de Outubro próximo. Iriam votar como se fossem residentes da Matola.

Os eleitores da fraude vinham transportados num autocarro da empresa municipal da Matola que segundo eles, os foi buscar em Mahoche.

De acordo com dados do Centro de Integridade Pública, o grupo foi apanhado na Escola Primária da Matola C onde pretendiam proceder o registo.

O que levantou suspeitas que levaram a neutralização do grupo da fraude foi a má sorte que os acompanhou, pois chegados ao local, as máquinas não estavam a funcionar e foram orientados a se dirigirem a um outro posto de registo nas proximidades. Foi nesse movimento para o outro local que o grupo chamou atenção a ponto de ser abordado, sobretudo porque em bloco dirigiam-se ao novo sítio, porém, pelo caminho, todos foram a compra do pão para saciarem a fome enquanto aguardavam.

Azarias Benzane um dos integrantes do grupo confessa: “Viemos de Moamba, Mahoche, para recensear”.

O motorista do autocarro quando abordado pelos fiscais da Renamo, escusou-se a explicar as circunstâncias em que transportava aquelas pessoas, alegando que apenas recebeu ordens superiores de dentro da empresa municipal.

 

Conivência policial?

 

Conforme narra o boletim do Centro de Integridade Pública (CIP), a delegada política provincial do Movimento Democrático de Moçambique, Amável Vera Cruz, disse ter recebido uma denúncia de que partiria da zona de Pessene, uma viatura carregada com pessoas que se iriam registar na Matola. Eles foram se posicionar após a ponte de Tchumene e viram o autocarro passar. O autocarro descarregou o primeiro grupo em Txumene, depois um segundo grupo em Malhampsene, e o último grupo na zona da Matola-C.

O grupo que desembarcou em Malhampsene tentou registar-se no mercado com o mesmo nome, mas acabou por não o fazer, ao constatar que tinham sido descobertos.

A polícia chegou mais tarde e dirigiu-se aos dois postos de registo da Matola C, mas sem antes dar ordem ao motorista para conduzir o autocarro para a esquadra. Depois de trabalhar nos dois postos, a polícia voltou à esquadra na companhia dos fiscais da Renamo. Mas a Renamo descobriu que o autocarro e o seu condutor não se encontravam na esquadra, ou no local onde o autocarro tinha estado retido. Eles fugiram, o que irritou os monitores da Renamo.

“Ficamos indignados, porque sem a polícia conseguimos segurar o autocarro e seu motorista, mas quando a polícia chegou, o autocarro sumiu”, disse Mateus Muchacuarhi.

A polícia abriu um processo contra os cidadãos neutralizados.

No mesmo dia (09 de Maio), a Renamo apresentou queixa na Delegacia do STAE na Cidade da Matola, aguardando resposta que será apensa ao processo que pretende remeter ao tribunal.

 

Suspeitas que pairam

 

De acordo com o CIP nenhum dos cerca de 50 passageiros do autocarro conseguiu registar-se em nenhum dos dois postos, mas a Renamo suspeita que possam ter ido para outros postos, como os postos do Centro de Formação de Professores, Língamo, Trevo ou mesmo 30 de Janeiro.

Registo nocturno descoberto na Matola

 

Um outro computador de registo e respectiva impressora foram descobertos e apreendidos na quarta-feira (10 de Maio), no bairro de São Dâmaso, município da Matola, província de Maputo.

O equipamento foi descoberto como sempre por fiscais da oposição, no caso, da Renamo, numa casa situada no quarteirão 98, em Chikadjuanine, bairro de São Dâmaso, onde o recenseamento estava a ser feito a calada da noite.

Após uma denúncia de que estava a decorrer o recenseamento naquela casa, os militantes da Renamo mobilizaram-se e foram acampar no local. Às 6h40, eles interceptaram os brigadistas e o computador que havia sido transferido do Posto 162, que funciona próximo ao ponto de ônibus de Chikadjuanine.

Este é mais um caso confirmado de registo nocturno e impressão de cartões. Nos dois primeiros casos (Guruè e Chiure) foi confirmado apenas a impressão nocturna de cartões, enquanto em Ribáuè realmente foi o registo clandestino à noite.

 

Gaza não fica atrás

 

Conforme o CIP, em Xai-Xai, a brigada localizada no bairro 4º de Fidel Castro, na fronteira com o município de Chongoene, está a registar os cidadãos que não residem no município.

“Uma chefe de quarteirão de nome Luísa Macuacua, residente em Chongoene, inscreveu-se naquela brigada, embora não resida no município. Quando perguntámos, ela disse que se registou por indicação do secretário do bairro, e a todos os que se registaram daquela área foram prometidos 7 mil meticais por agregado familiar, que o Partido Frelimo lhes daria”.

“No Chókwè, o equipamento de registo do EPC de Muchakwarine é guardado todos os dias em casa do chefe da localidade de Machel, Arlindo Tivane. Da mesma forma, as máquinas da 2ª Escola do Bairro não estão guardadas nas instalações do STAE, mas sim numa casa cujo endereço ainda não conseguimos apurar”. (PpP)

 

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