Sociedade

Depois da Greve de profissionais da saúde: Enchentes e lentidão caracterizam unidades sanitárias

Depois de a Associação dos Profissionais de Saúde de Moçambique (APSUSM) ter anunciado, domingo último (04 de Junho), a suspensão da greve por um período de 15 dias, algumas unidades sanitárias da cidade de Maputo registaram enchentes incomuns entre segunda e terça-feira, da semana em curso.

 

A greve suspensa, que surgira em  reivindicação de melhores condições salariais e laborais, deveria ter uma duração de 25 dias prorrogáveis a partir do dia 01 de Junho, mas só teve duração de quatro dias.

Segundo apurou o Observatório Cidadão para Saúde (OCS), grande parte dos utentes que procurou os serviços de saúde, nos dias da greve, não teve acesso à assistência médica e medicamentosa, dado que os profissionais não se encontravam nos seus postos de trabalho.

Em resposta a uma das reivindicações dos profissionais, referente à falta de material de trabalho, o director Nacional Adjunto dos Armazéns Médicos, Abu Jone, – após o segundo dia de negociações – garantiu que estão disponíveis pelo menos 16 milhões de pares de luvas, 42 milhões de máscaras cirúrgicas e mais de um milhão de aventais descartáveis, entre outros equipamentos de protecção individual.

Em entrevista com uma das utentes, mãe de dois filhos, o OCS soube que as portas do  Centro de Saúde 1º de Maio, arredores da capital moçambicana, estiveram encerradas.

Interpelada na fila de espera, a utente contou que “a sua filha mais nova sentiu-se mal na madrugada de sábado e, logo pela manhã, dirigiu-se à unidade hospitalar para buscar a assistência da menina, mas chegado lá apanhou os portões encerrados”.

De acordo com Gomes, não havendo outra solução senão voltar a casa com a criança, as rezas constituíram o único caminho para a melhoria da doente, mas não houve sucesso. Aliás, no dia seguinte, ela também (a mãe) começou a sentir-se mal, mas nem por isso tentou sair de casa por conta da situação anterior.

“Só soube na noite de segunda-feira, através da comunicação social, que a greve tinha sido suspensa e, por isso, programei-me imediatamente para, na terça-feira, remarcar a consulta para mim e para a bebé”, disse a fonte.

A equipa do OCS abordou a utente por volta das 14 horas, mas esta já se encontrava no centro de saúde desde às 7 horas da manhã. Já tinha conseguido a consulta para a filha, faltando a sua apenas.

“Estava muito mais cheio que isto. Desde às 7horas que aqui me encontro, consegui fazer a consulta da minha filha e falta a minha. O atendimento não está lá grande coisa, está bastante moroso”, afirmou.

Outra utente entrevistada, também  no Centro de Saúde 1º de Maio,  chama-se Amélia Tomás, que acompanhava o seu esposo, vítima de  Acidente Vascular Cerebral (AVC). A utente aguardava ansiosamente pela assistência que seria dada ao seu marido, argumentando que a morosidade era bastante acentuada.

“Infelizmente, o atendimento está muito moroso. Levam muito tempo para chamar as pessoas que devem entrar no gabinete. Infelizmente, não há o que fazer, só podemos suportar porque precisamos de atendimento”, lamentou Amélia.

 

Atendimento a Meio Gás

 

Apesar de a APSUSM ter suspenso a greve, por 15 dias, para permitir o diálogo com o Governo, evidencia-se que as actividades decorrem parcialmente, ou seja, alguns serviços ainda não retornaram ao funcionamento normal.

Alguns utentes entrevistados pela equipa do OCS queixaram-se da excessiva morosidade no atendimento, a ponto de aventar a possibilidade de a greve continuar silenciosamente a vigorar.

No Centro de Saúde da Malhangalene, alguns pacientes abandonaram a fila, mesmo após terem adquirido as senhas, por observarem que os profissionais não estavam em actividade, limitavam-se simplesmente em “juntar-se em grupinhos para pequenas reuniões e nada mais que isso”.

Um dos pacientes no local, que falou na condição de anonimato, explicou que se encontrava no centro há quatro horas e que só foi atendido no guiché para a compra da senha e aconselhado a esperar no gabinete de atendimento.

“Todos aqui, sentados, estamos à espera de atendimento. Na verdade, não sabemos o que está a acontecer porque ouvimos que a greve foi suspensa, mas não nos parece. Os enfermeiros estiveram aqui fora reunidos e nada mais aconteceu”, explicou a fonte.

À semelhança do 1º de Maio, no Malhangalene também há pacientes que foram procurar os serviços antes, nos dias em que decorria a greve, e foram mandados voltar para casa. Estes acreditam que as enchentes devem-se exactamente a esse facto, pois muitas consultas ficaram pendentes.

Porque muitos serviços estiveram encerrados, há relatos de que houve igualmente mortes, por falta de assistência.

Fontes, em condição anónima, informaram ao OCS que no Hospital Provincial de Maputo, houve registo de 10 óbitos nos quatro dias em que as actividades estiveram paralisadas.

Na tentativa de ouvir a reacção do hospital sobre os impactos que esta greve teria causado, para além das mortes, o OCS entrou em contacto com a directora daquela unidade sanitária, mas esta disse que não estava autorizada a dar entrevistas.

Refira-se que os profissionais de saúde exigem melhores salários e condições de trabalho nas unidades sanitárias, numa altura em que se assiste à falta de ferramenta de trabalho. Este grupo quer, igualmente, que a tutela solucione a falta de material de trabalho, incluindo luvas, soros e equipamento de Raios-X, porque a falta destes equipamentos expõe os trabalhadores do sector a infecções, responsáveis por mortes que as estatísticas não mostram. (PpP/fonte:OCS)

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